É. Jornal Expresse tem grande oportunidade e a honra de entrevistar esse homem, um dos principais precursores da democracia e Ex-Presidente da Guiné-Bissau. Um audacioso homem, que um dia se levantou, nos momentos difíceis, enfrentando os homens mais temíveis na época dos generais. Os generais que, às vezes, pela ignorância e atraso social eram tratados como os sobrenaturais. Mas, este homem conseguiu quebrar tabu, tirou deles as máscaras de mentiras, para que a população de então visse que não era tudo isso. Simplesmente eram homens comuns, como qualquer um. A partir de então, cada um começou a ganhar a coragem de enfrentar os generais, o enfrentamento que se culminou em Guerra de Sete de Junho de 1998. É ele, Dr. Kumba Yara. Não. Que me desculpe. Dr. Kumba Yalá. O homem que está sendo esquecido aos poucos pela nossa própria...
Jornal Expresse - Bom dia Doutor Yalá.
Kumba Yalá – bom dia a todos.
JE – Yalá, o senhor pode nos explicar, o que a Sua Excelência fez de tão errado na Guiné-Bissau, para ser tão rejeitado por nuitos... Alguns, por tudo que fizeram de mal neste país, ao longo dos anos, mas, mesmo assim, foram dadas oportunidades. O que senhor tem para nos falar sobre este assunto?
KY – sinceramente, nem sei explicar o porquê de tudo isso. Mas, como você tem afirmado abocado, que eu tenho atrapalhado interesse de muitas pessoas, que não engoliram isso até a data presente.
JE – o que o senhor espera desta próxima eleição?
KY – vitória.
JE – é tão fácil assim? O governo, o principal responsável pela contagem dos votos e mesmo assim, o senhor ganha?
KY – sem sombra de dúvida. Não é apenas o governo está à frente.
JE – e quem tem chaves de “cofre” nas mãos? Mas, esquece, vamos mudar de assunto. Inicialmente, na sua Carrera política, o senhor era visto como um grande nacionalista, que opunha bastante o interesse externo. E, hoje, em cada sua expressão, você menciona nome de Portugal. Por quê?
KY – pois é, Di Prudêncio. Portugal é o país irmão. A história nos une.
JE – e o senhor acha que foi uma boa história, para ser tão lembrada com todo o sorriso?
KY – esquece. O que passou, passou...
JE – só pode ser mesmo líderes africanos. Senhor não acha, na cabeça deles, a gente não esqueceu, ou tem um coração bom que perdoa e esquece rápido. Mas, sim, dinheiro, apego às coisas luxuosas, nos faz esquecer o que não deveria ser esquecido.
KY – senhor acha que o país deve deixar de estabelecer a cooperação com os países irmãos, por causa da história amarga?
JE – o senhor chama isso de cooperação? Por que não fala manipulação ou padrinhação? O mundo está se lutando incansavelmente para se livrar da dependência letal dos europeus, enquanto aqui faz campanha, usando nome dos europeus para chegar ao poder. Entregando-lhes os nossos recursos naturais para administrar, em nome de cooperação com os parceiros.
KY – segurança. Para ter mais segurança no poder e boa representação na Nações Unidas.
JE – onde está a independência que sempre ostentamos pelas ruas de Bissau? Yalá, o senhor era admirado por muitos jovens intelectuais, pela sua postura política, pela sua autodeterminação e muitas outras coisas que provocam reflexões. Mas, hoje, tudo está avesso.
KY – deve ser assim. Caso contrário, eu não ganharia a próxima eleição, ou se ganhar, no dia seguinte serei derrubado pela própria força externa. Aqui, a sociedade civil não consegue assegurar o governo se a força externa não quer. Será difícil mudar esta página quanto à sociedade permanece sob analfabetismo.
JE – hahah! É por isso, na sua governação, as crianças e adolescentes pagavam para estudar? É por isso, na sua governação houve um ano de grave? É por isso, na sua governação, o país deu a continuidade ao sistema do ensino colonial, marginalizando a nossa cultura e as línguas nacionais. Além do mais, você dava continuidade ao estudo, aos filhos das elites, com o intuito de se europeizassem e permanecessem colaborando com a civilização...?
KY – nada disso...
JE – Vamos mudar de assunto, então. Eu percebi uma coisa que é muito vergonhosa. Lógico, o problema nosso, da África Negra, não vale nem um centavo para a Comunidade Internacional. Por isso, vocês, quando chegam ao poder, também, nem dão valor às reivindicações, tanto político quanto social. Vocês se transformam em arrogantes, sabendo que nada vai acontecer. Enquanto, os próprios padrinhos seus, sentados à mesa, almoçando ou jantando rindo da vossa irracionalidade. Conta-me, quando vocês são eleitos ao alto cargo da nação, vocês se drogam ou simplesmente emprestam cabeça de um monstro para governar?
KY – antes, pretendo responder a sua crítica sobre a educação. Cobramos, sim, as taxas como acontecem em muitos países.
JE – mas, você não acha que esses países já estão educacionalmente sólidos. Com a taxa de analfabetismo quase zero. E outra coisa, porque vocês copiam apenas coisas insignificantes para população? O país que pretende crescer sempre olha para frente, coisas boas para o seu povo.
KY – o meu adversário deu a continuidade à minha administração...
JE – Pois é, Yará, ó meu deus? Yalá. O PAIGC tem muito para te agradecer.
KY – Por quê?
JE – porque foi o senhor que o ressuscitou. Estaria ele em extinção caso você governasse bem. Nenhum guineense ia lembrar-se, digamos, deles, a não ser no museu. Mas, se o senhor continuar com esta sua mentalidade particularista e individual na tomada das decisões; se não mudar este seu pensamento descompromissado com a nação e com os interesses gerais da sociedade – como tem visto nas penúltimas eleições, tomando decisão por implicação pessoal – você será lembrado apenas pela história. A sua Excelência deve continuar com a sua política social, em defesa dos valores nacionais. Terá apoio gigantesco... Até porque os seus erros não chegam nem um quarto dos outros erros...
KY – Já estamos preparando jovens...
JE – que jovens? Olha, é melhor fechar esta entrevista. Agradecemos a sua presença e tenha boa sorte.
Jornal Expresse
Jornalista, Prudêncio de Ocante
Marcelo Aratum
aratum22@yahoo.com.br
Só na Guiné um maluco deste se acha capaz de ser um Presidente da república!...
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