GUINÉ-BISSAU: DE UM PROJETO DE CONSTRUÇÃO DO ESTADO
NACIONAL A UM ESTADO À DERIVA
Falar da independência da
Guiné-Bissau pressupõe-se a falar um pouco de sua história e história do povo
que ali vivia antes da ocupação estrangeira.
“GUINÉ-BISSAU”
ANTES DA INVASÃO ESTRANGEIRA
Se basearmos-nos na necessidade que homem sempre
tem a se deslocar, devido a sua sobrevivência, à procura de espaços férteis,
chegaremos à conclusão de que já havia existido, no território, hoje
Guiné-Bissau, povos que a habitavam.
Só que a origem histórica do povoamento da
Guiné-Bissau durante milênio, salvo erro, continua em anonimato dentre os
próprios guineenses. Esse é um dos desafios da nova geração: de pesquisar e
estudar a sua história. Emília Viotti da Costa nos leva a pensar bastante sobre
isso, ao afirmar: "Um povo sem memória é um povo sem história. E um povo
sem história está fadado a cometer, no presente e no futuro, os mesmos erros do
passado.
Então, precisa refletir-se que a zona litoral,
foi um dos principais fatores da imigração dos ancestrais guineenses,
atualmente, formando-se como uma única nação. Tendo nela os fulupes, balantas,
pepeles, fulas, mandjacos, mancanhes, budjugos, biafadas, mandingas e muitas
outras etnias.
“GUINÉ-BISSAU”,
A INVASÃO ESTRANGEIRA – ISLAMISMO
Segundo
a história nos ensina, a invasão islâmica foi a primeira que a invasão cristã.
O islamismo chegou à Guiné-Bissau nos meados do século XIII e se
instalou, sobretudo, na região leste. E, devido a sua força bélica e religiosa, ou seja, força muito bem
estruturada, obrigaram os nativos que, ali viviam, a se recuar mais para o
interior do país, a procura da proteção, outrora, contra a própria islamização.
Os nativos que permaneciam sob seus controles, sem condição de lutar, passaram
a submeter e adquirir o islã como o seu caminho da fé.
Figura
abaixo demonstra a rota da penetração dos islãs:
Os camelos eram os meios
apropriados para transportar as cargas, sobretudo, as da primeira necessidade,
durante a expedição e conquista islâmica.
Os
cavalos e as espadas são instrumentos de combate.
“GUINÉ-BISSAU”, A INVASÃO ESTRANGEIRA –
CRISTIANISMO
Com a invasão dos cristãos
portugueses, no século XV, com seus navios enfeitados de cruzes, como se vê na
imagem a seguir:
Pois é, com a chegada dos
portugueses à Guiné-Bissau, a história e o modo de ser dos nativos se
transformaram radicalmente: na sua forma de se comunicar, de se vestir,
inclusive a sua culinária, a sua forma de enxergar e pensar o mundo,
principalmente no campo religioso. Lembrando que tudo não foi dado de graça aos
nativos, e sim, na base da imposição, tanto a dos islãs quanto a dos cristãos.
A partir daí, nasceram na Guiné-Bissau as duas novas religiões mais populares
do país: Islã e Cristão. Muito embora ainda sobrevivem as religiões de matriz
africana, professada por grande maioria.
Os colonos portugueses, ao
lado das missões jesuítas, criadas, segundo o Vaticano, para levar a palavra do
Cristo, se mobilizaram a catequizar os nativos guineenses, negando categoricamente
seus valores ancestrais. A justificativa dos colonos era civilizar os filhos da
terra, que eram tachados de gentios. Pelo respeito e consideração
que os portugueses tinham pelo islamismo que ali encontraram, os nativos
islamizados não sofreram a perseguição nem foram catequizados, muito menos
submetidos a trabalho brutal.
A selvageria dos colonos
portugueses atormentava constantemente a vida dos nativos resistentes aos
valores europeus, tais nativos, inconformados com a cultura do homem branco,
acabaram se afastar, para não se perderem no tempo e espaço das suas raízes,
como tem acontecido com muitos.
Lembrando que, socialmente,
essa resistência aos valores europeus tem preços. Os resistentes eram chamados
de “os não civilizados,” tanto pelos homens brancos quanto pelos nativos que se
incorporavam ao sistema e ideal europeu. A liberdade de pensamento era
absolutamente negada. A economia do país era essencialmente controlada pelo rei
de Portugal, D. Pedro. A educação formal era preconceituosamente seletiva.
Tinha acesso ao ensino-aprendizagem apenas filhos dos que coabitavam com os
valores europeus - língua, religião, vestimenta, ideologia.
GUINÉ-BISSAU,
DURANTE A LUTA PELA INDEPENDÊNCIA
Acompanhando a descriminação cultural,
religiosa e socioeconômica dos invasores portugueses, os jovens das décadas
quarenta e sessenta, com a influência dos países socialistas, sobretudo, da
antiga União Soviética, se mobilizaram para lutar pela independência nacional.
Dentre esses jovens de então, o Amilcar Cabral foi o destaque.
• Em decorrência da insurreição armada,
todas as etnias guineenses se juntaram por um único objetivo: conquistar a sua
soberania. Sobretudo, para defender os seus valores e a integridade física da
nação.
Infelizmente,
em 1973, Amilcar Cabral faleceu, um ano depois a Guiné-Bissau se libertou
fisicamente dos colonos portugueses.
GUINÉ-BISSAU, DEPOIS DOS PORTUGUESES
Os portugueses foram embora,
os guineenses assumiram o destino do país. O povo, com a expectativa,
aguardando ansiosamente os dias melhores, tais dias que foram negados pelos
colonos portugueses: de promover a educação de qualidade e respeitar
os valores intrínsecos dos ancestrais guineenses.
Infelizmente o anseio
popular permanece apenas na expectativa. Pois, até hoje a educação continua
seletiva, ou excludente. Guineenses permanecem simbolicamente divididos, entre
os adeptos da crença de matriz africana, islâmica e cristã. Tudo se piorou com
o advento da democracia. A pobreza, a violência física ou moral crescente, e
sem falar da injustiça decorrente no país. A Guiné-Bissau, um Estado à deriva,
sem projeto social, para apagar as cicatrizes vividas pelo povo há séculos.
.
EM
FIM
Este é o país que fomos dados, a REPÚBLICA DA
GUINÉ-BISSAU. Desenhada, no gabinete, ao bel-prazer do colonizador.
Esta é a bandeira, símbolo da unidade nacional, enfeitada
com três cores: vermelha, amarela e verde, com uma estrela preta, simbolizando
a grandeza de uma nação.
Esta é a nossa história. História da nossa pátria amada.
Povo e sua história. A nossa história. História da Guiné-Bissau.
Escritor Marcelo
Aratum
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