“Em nome de todos os órgãos de soberania guineense, hoje, dia 3 de julho, num armazém sito junto ao Centro Artesanal, atrás do Cemitério Municipal de Bissau, o Governo em solidariedade com os fies muçulmanos, doou a comunidade 6.500 (seis mil e quinhentos) sacos de açúcar, correspondeste a 32,5 toneladas e meio...” Continuou:
“Este é um gesto de solidariedade. Os nossos irmãos fies muçulmanos estão no período de Ramadão... um período sagrado. Pensamos ser bonito quando todas as sociedades manifestam a sua solidariedade com nossos irmãos que estão no período de jejum. Desejando que este jejum seja realmente um jejum sagrado, a favor país... da estanquidade, da paz... da reconciliação.” (As palavras do Nho Dominguinho Microfone).
E AS OUTRAS ETNIAS?
Tudo bem, mas o que eu não consigo entender até hoje é este: por que os MUÇULMANOS, na Guiné-Bissau, continuam tendo tanto beneficio do Estado da Guiné-Bissau? Por que gente? Nenhuma explicação até agora não me convence. Nasci e cresci nesse país, mas nunca vi um governo fazendo gesto direto ou indiretamente às etnias: Mandjaco, Pepel, Balanta, Fulupe, etc. em decorrência de suas religiões e muito menos fazendo a doação dessa magnitude. Será por que os MUÇULMANOS aproximam e exigem mais os governantes a cumprirem com seus “deveres”? Certo! Aquele ditado popular: QUEM CALA, CONSENTE. Porém, esse não é o objetivo deste grupo: o SILÊNCIO.
A LAICIDADE DO ESTADO DA GUINÉ-BISSAU
Por que um estado, dito laico, aproxima e privilegia tanto às certas etnias em decorrência de sua religião? Isso que é a justiça social, reconciliação nacional, unidade nacional, exibidas nas campanhas eleitorais?
O QUE É MUÇULMANO?
Ora bem, sei que, durante a sua leitura acima, você já fez um pré-julgamento de sua própria ignorância, semelhante a esta: “Marcelo Aratum está misturando as duas coisas tão diferentes, etnia e a religião.” Pois é, foi a mesma crítica que eu havia recebido deste senhor “ativista social Djens”. Esse senhor estava me dando a lição de boa convivência. Dizendo que ligar a religião à etnia insinua intrigas tribais (uma contradição, por parte dele, religião verso intrigas tribais). Isso aí, gente. Na realidade, tudo que se escreve, deve precisar de uma cautela e de um conhecimento amplo. Então, baseando-me em todo esse pensamento programado, cheguei à conclusão de que é preciso um esclarecimento nítido sobre o conceito de MUÇULMANOS, que permanece formigando na cabeça de muitos guineenses como uma religião.
Não sei se percebe durante a leitura sua, não mencionei em momento algum o termo ISLÃO ou ISLAMISMO, mas, sim, os MUÇULMANOS. Reflexivamente, entendendo que os MUÇULMANOS são grupos étnicos que compõem ou seguem a religião islâmica.
Agora doar para a religião é uma coisa e doar para etnias componentes dessa religião é a outra coisa. Por isso devemos começar a denunciar esse tipo de prática que atravessou o tempo, beneficiando, privilegiando mais os MUÇULMANOS (etnias Fulas, Mandingas, Biafadas, etc) e deixando as outras etnias: Mandjaco, Pepel, Balanta, Fulupe, etc, à salva de Deus, como dizem os religiosos.
RECLAMAÇÕES DOS GUINEENSES
O que eu ouço mais das reclamações dos guineenses, óbvio pela deficiência de discernir os fatos, colocam na bandeja, apenas a discussão religiosa, colocando o CRISTÃO como menos beneficiado.
Olha, o meu camarada, a parada não é isso. Simplesmente é um subterfúgio, disfarce à religião. A questão em debate é profundamente étnica. Porque a etnia Fula recebeu a doação em decorrência de sua religião; etnia Mandiga recebeu a doação em decorrência de sua religião; etnia Biafada recebeu a doação em decorrência de sua religião, etc.
E as religiões de matriz guineense? Etnias Mandjaco, Pepel, Balanta, Fulupe, etc. ou seja, não têm religião? Ou vamos continuar aceitar a acusação cristã, no pleno século XXI, que a nossa religião não é religião, mas, sim a prática diabólica? Então, essas etnias abordadas acima também têm todo o direito de receber do Estado qualquer benefício em decorrência de suas religiões. O mesmo benefício deve ser estendidos aos guineenses que adotaram o cristianismo como sua religião. E os ATEUS, que vivem a vida longe das doutrinas religiosas, que não têm nenhum motivo para acreditar em seres sobrenaturais? Será que eles não têm direito de ser beneficiados pelo Estado?
CONFLITO ÉTNICO OU RELIGIOSO
Esse tipo de comportamento isolado e eleitoreiro não pode continuar acontecendo num país como nosso. Até porque todos votam.
Olha guineense, independentemente, da etnia da qual faz parte, deve ter coragem de debater esse equívoco do Estado, que todos nós fazemos parte. Sendo assim, devemos ficar de olhos abertos sobre a distorção e deturpação das informações, através do cenário como este: a gerência do conflito religioso ou étnico. Isso não tem nada a ver com o conflito religioso ou étnico. Simplesmente é uma forma de desviar o foco da discussão.
CONCLUSÃO
Por favor, saia atrás da porta, mostre sua cara e debata as questões pertinentes do país.
Só assim que a Guiné-Bissau possa encontrar o caminho a uma convivência condigna, ou seja, justa.
Vamos lutar, corajosamente, com afinco e sem qualquer intimidação em favor do bem-estar a todas as etnias do país. Caso contrário...
OBSERVAÇÃO: faça parte do debate do nosso grupo no Facebook: JUSTIÇA SOCIAL E EXERCÍCIO DA CIDADANIA NA GUINÉ-BISSAU.
Marcelo Aratum
Abraços!!!!!!!!!!!!!!!!!
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